![Arquitetura para pessoas com deficiência auditiva: 6 dicas de projeto - Imagem 1 de 8](https://images.adsttc.com/media/images/5e7d/27de/b357/651b/7e00/03d3/newsletter/deafness-4.jpg?1585260499)
Ao contrário do que podemos acreditar, a perda de audição nem sempre é congênita. Mais cedo ou mais tarde isso pode acontecer com todos nós. Segundo a OMS, quase um terço das pessoas com mais de 65 anos sofrem de perda auditiva incapacitante. A perda auditiva é mais uma "diferença" do que uma "deficiência". Embora as demandas espaciais das pessoas com impedimentos auditivos não sejam tão marcadas como espaços para cegos ou para aqueles com mobilidade reduzida, a redução da capacidade auditiva implica uma maneira específica de experenciar o ambiente. É possível aprimorar essa experiência através do projeto de interiores?
Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 5% da população mundial - aproximadamente 466 milhões de pessoas - é diagnosticada com o que chamam de 'perda auditiva incapacitante'. Embora seja dividido em diferentes graus de audição, parcial ou total (hipocusia ou anacusia), esse grupo é caracterizado por perda auditiva superior a 40dB no ouvido, com melhor audição em adultos e superior a 30dB no ouvido com melhor audição em crianças, concentrando o maior número de pessoas com essa deficiência nos países de baixa e média renda.
Como contribuir através do projeto?
Obviamente, a primeira coisa a considerar são as diferenças que variados programas exigem: não é o mesmo projetar o interior de uma casa e o interior de um hospital, além de qualquer impedimento que possamos ter. As relações, dimensões e movimentos são diferentes, assim como o volume e a função dos sons. No entanto, há certas considerações gerais a levar em conta para projetar espaços mais acusticamente confortáveis.
Distribuição interna e visibilidade
As pessoas com deficiência auditiva usam métodos diferentes para se comunicar, incorporando linguagem escrita, dispositivos auxiliares, linguagem gestual ou oral em alguns casos. Segundo a ADA (Americans with Disabilities Act - Lei dos Americanos Portadores de Deficiência), em média, apenas um terço das palavras faladas podem ser entendidas pela leitura labial. É fundamental criar condições espaciais para uma comunicação eficaz por meio desses diferentes métodos, o que implica sempre conceder a possibilidade de que os interlocutores se enfrentem confortavelmente sem precisar parar de se olhar enquanto conversam.
![Arquitetura para pessoas com deficiência auditiva: 6 dicas de projeto - Imagem 6 de 8](https://images.adsttc.com/media/images/5e7d/1d7a/b357/651b/7e00/03cb/newsletter/deafness-2.jpg?1585257840)
Considerar distribuições amplas ou circulares, mais que lineares, para espaços de mais de 4 pessoas pode facilitar um canal de comunicação aberto, onde todos os participantes podem se ver. Além das dimensões do local disponível, divisões e mobiliários móveis podem ajudar a organizar espaços dessas características. Em termos de mobilidade, é importante facilitar as rotas e favorecer ações instintivas que permitam que duas pessoas continuem se olhando enquanto caminham, atravessando o espaço com segurança. Rampas, aberturas automáticas, elementos gráficos de segurança e sinalização são igualmente úteis neste caso.
Brilho, luz e reflexos
Por razões semelhantes, a luz desempenha um papel fundamental para assegurar não apenas o conforto, mas, neste caso, especialmente a comunicação. As cores que contrastam com os tons de pele ajudam outras pessoas a perceberem melhor as expressões faciais e os movimentos das mãos. Por outro lado, a iluminação natural ou artificial precisa ser suficiente para garantir uma visão clara, mas não excessiva (evitando o brilho), e contínua para assegurar mudanças repentinas na atmosfera que possam ser perturbadoras. As janelas devem ter maneiras de regular a luz interna, além de vidros e espelhos. Alguns especialistas recomendam o uso de espelhos para manter um maior controle visual do ambiente, desde que estejam bem posicionados e não contribuam para a confusão na compreensão do espaço.
![Arquitetura para pessoas com deficiência auditiva: 6 dicas de projeto - Imagem 2 de 8](https://images.adsttc.com/media/images/5e7d/2840/b357/651b/7e00/03d4/newsletter/10_Microsoft_Cambridge.jpg?1585260597)
Espaços multissensoriais
Diz-se que quando um sentido é perdido, outros se tornam mais agudos, ou pelo menos se tornam mais protagonistas. Cores, sombras e até vibrações podem ajudar as pessoas com limitações auditivas a entender melhor e alertá-las sobre seu entorno. Em uma cultura altamente visual, tendemos a esquecer que a experiência do espaço abrange todos os sentidos. O design multissensorial, enraizado na década de 1950, propõe o desfrute do espaço através dos sentidos, demonstrando que, ao se abrir para múltiplas experiências sensoriais, é possível satisfazer uma ampla gama de usuários. Até agora, táticas para o design multissensorial foram exploradas em exposições e instalações de arte, para demonstrar seu alcance a um público mais amplo, preparando-os para entrar no campo da arquitetura.
![Arquitetura para pessoas com deficiência auditiva: 6 dicas de projeto - Imagem 4 de 8](https://images.adsttc.com/media/images/640f/a041/99ef/3b21/4e5f/0a55/newsletter/arquitectura-para-personas-con-perdida-auditiva-6-consejos-de-diseno_7.jpg?1678745676)
Otimização acústica
Ao contrário da crença popular, o ruído - além de ser uma causa séria de perda auditiva - é um fator crítico no bem-estar de pessoas com baixos níveis auditivos. Independentemente do grau, as pessoas com baixos níveis auditivos percebem o som de maneiras que podem ser altamente perturbadoras, especialmente para indivíduos com dispositivos auxiliares. A reverberação causada por ondas sonoras e refletida por superfícies duras pode ser perturbadora e até dolorosa para elas. Para melhorar essas condições internas, basta seguir os princípios acústicos básicos. Dentro de casa, melhorar a acústica de um espaço consiste principalmente em reduzir a reverberação, reconhecendo o nível de absorção dos materiais que o compõem, distribuindo ruídos ou fontes sonoras, como máquinas ou alto-falantes, e considerando um gradiente de ruído ambiente de acordo com o uso.
![Arquitetura para pessoas com deficiência auditiva: 6 dicas de projeto - Imagem 7 de 8](https://images.adsttc.com/media/images/5e7d/33c8/b357/651b/7e00/03e8/newsletter/PressKit_Studio_O_A_for_McDonald_s_HQ-30.jpg?1585263550)
Materiais, objetos e novas tecnologias
Para alcançar uma cultura de design inclusivo, é importante pensar em soluções simples que não aumentem o custo base do projeto, independentemente das soluções específicas que possam existir no mercado. Por um lado, é necessário equilibrar o uso de materiais absorventes e refletivos, para reduzir a intensidade do som que viaja de um espaço para outro. Por outro lado, é importante considerar o efeito dos materiais no uso diário: evite superfícies muito brilhantes, materiais em pisos e móveis que normalmente causam ruído ao contato (como ao mover móveis) ou promova revestimentos que transmitam vibrações (como pisos de madeira que reverberam ao caminhar).
![Arquitetura para pessoas com deficiência auditiva: 6 dicas de projeto - Imagem 3 de 8](https://images.adsttc.com/media/images/5e7d/2d15/b357/651b/7e00/03d8/newsletter/TU-180521-artek-office-028.jpg?1585261836)
Além dos materiais de revestimento, existem objetos e tecnologias que, ao considerar os atos cotidianos, podem tornar o espaço mais confortável. Na cidade, frequentemente nos comunicamos através de ruídos - campainhas, sinos, sirenes - que interferem no conforto acústico de todos. Pensando em sinais visuais, como alertas de luz ou digitais, a comunicação por meio de quadros brancos ou códigos de cores pode servir como soluções simples para a comunicação diária. Existem também novas tecnologias que permitem converter som em imagens e vibrações para experiências mais complexas ou aplicativos que reconhecem o som ambiente (como a máquina de lavar) ou convertem alertas em cores.
![Arquitetura para pessoas com deficiência auditiva: 6 dicas de projeto - Imagem 5 de 8](https://images.adsttc.com/media/images/5e7d/401e/b357/651b/7e00/0417/medium_jpg/stringio.jpg?1585266710)
Em síntese, um projeto verdadeiramente inclusivo não implica estar sempre ciente de considerações especiais, mas incorporar na gênese necessidades que tendem a ser básicas para todos, independentemente de suas condições físicas. Como assumimos a acessibilidade universal como um conceito essencial ao projetar espaços, devemos assumir que nem todos os impedimentos são equivalentes e que diferentes limitações enfrentam necessidades particulares. A inclusão implica ir muito além de espaços e critérios especializados (não é verdadeira inclusão se espaços especiais forem criados), mas evitar essa segregação em favor de tornar nosso ambiente diário amigável a todas as pessoas, independentemente de suas limitações de atividade ou restrições de participação.
Além da OMS e dos artigos vinculados anteriormente, algumas das referências usadas para este artigo são:
- DeafSpace É um projeto da Universidade Gallaudet, em Washington, D.C., uma instituição de artes liberais voltada para pessoas com problemas auditivos.
- The experience of deaf people in the spheres of daily activities, estudo de Carla Regina Marin e Maria Cecília Rafael de Góes
- The Journal of the Acoustical Society of America
- Accesibilidad auditiva: Pautas básicas para aplicar en los entornos de Antonio Espínola Jiménez (e uma síntese do mesmo autor)
- Experiências multissensoriais na exposição "Os sentidos: Design além da visão"
Nota do Editor: Este artigo foi publicado originalmente em 02 de abril de 2020